Quase 150 anos separam o dia de hoje do dia em que 129 operárias morreram em uma greve nos Estados Unidos. Em 8 de março de 1857, patrões e policiais colocaram fogo na fábrica têxtil onde as mulheres estavam trancadas, após protestarem contra a jornada de trabalho de 16 horas e por melhores salários. Muita coisa mudou desde então, mas ainda há muito por fazer. Se no século 20 a mulher conquistou direitos importantes, como o direito a voto, ainda continua vítima preferencial da violência, discriminada e pouco representada.
As primeiras articulações de um movimento feminista começaram logo após a Revolução Francesa. Os principais objetivos eram o direito ao voto e à educação. No Brasil, até 1879, as mulheres eram proibidas de freqüentar cursos de nível superior e, durante boa parte do século 19, só poderiam ter educação fundamental. Mesmo com a legislação que permitia a instrução feminina, as mulheres tinham o acesso dificultado.
Direito ao voto - O direito ao voto mobilizou as mulheres durante boa parte da primeira metade do século 20. No Brasil, essa conquista aconteceu em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas. A Nova Zelândia foi o primeiro país a permitir que o voto feminino, em 1893. Na França, apesar de "igualdade" estar entre os lemas da Revolução Francesa, a mulher só conseguiu votar a partir de 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Porém as mulheres continuam subrepresentadas nos cargos públicos. As mulheres conquistaram prefeituras e governos estaduais importantes, como Luiza Erundina e Marta Suplicy na cidade de São Paulo, Ângela Amin em Florianópolis e Roseana Sarney no governo do Maranhão. Mas não ocupam nenhum ministério do governo e não chegam a 10% do total de deputados federais e senadores.
Guerra e indústria - A guerra também empurrou mais mulheres para o mercado de trabalho. Desde a Revolução Industrial, mulheres vinham ocupando postos em fábricas, além de exercer as profissões tipicamente femininas, como enfermagem e serviços domésticos. Como persiste até hoje, as diferenças brutais eram brutais nos salários de mulheres e homens.
Liberação sexual - Nos anos 50, o feminismo ganhou um novo aspecto: a contrução da identidade feminina e a liberação sexual. Em 1949, a escritora Simone de Beauvoir publicou O Segundo Sexo, que demolia o mito da "natureza feminina" e negava a existência de um "destino biológico feminino". Para a companheira de Jean-Paul Sartre, "a feminilidade não é uma essência nem uma natureza: é uma situação criada pelas civilazações a partir de certos dados fisiológicos".
O livro causou impacto imediato e provocou críticas não só dos conservadores - devido principalmente aos capítulos dedicados à sexualidade feminina -, mas também da esquerda. Simone de Beauvoir foi acusada de desviar o foco da questão principal, a luta de classes.
Pílula - A liberação da mulher ganhou novo impulso nos anos 60, com a criação da pílula anticoncepcional. A revolução sexual acompanhava outros acontecimentos da época, como a guerra do Vietnã e a ascensão do movimento estudantil. A pílula tirou um dos pretexto para a repressão sexual das mulheres, a gravidez indesejada, e se tornou o principal método contraceptivo. Depois de 40 anos de seu lançamento, é usada por cem milhões de mulheres em todo o mundo.
Minissaia - Outro sinal dos tempos viria em 1964, quando a inglesa Mary Quant escandalizou com uma saia dois palmos acima do joelho. O pedaço de pano de trinta centímetros rapidamente conquistou mulheres de todo o mundo e deu o impulso a novas musas, como a modelo Twiggy, que apesar de polêmicas eram mais simpáticas que as feministas clássicas, como Betty Friedman e Simone de Beauvoir. Em 1971, preenchendo a longa lista de tabus quebrados, a brasileira Leila Diniz apareceu de biquíni em uma praia carioca, exibindo uma grande barriga de gravidez.
A revolução nos costumes passaria a ocupar todos os fronts. As publicações e programas de televisão dirigidos ao público feminino se multiplicaram durante os anos 80 e a educação sexual começou a entrar nos currículos escolares. A própria estrutura familiar mudou. As mulheres, sem dependerem financeiramente do marido, passaram a adiar o casamento. As taxas de fecundidade caíram, ligadas à presença cada vez maior no mercado de trabalho.
Mais recentemente, uma nova arma foi incorporada ao arsenal da luta pelos direitos da mulher: a ação afirmativa. A determinação de cotas mínimas de mulheres em universidades e nos partidos, por exemplo, dividem opinião mesmo entre as feministas. Algumas vêem sinais de paternalismo nessa atitude, contra as que acreditam que é um meio legítimo de corrigir injustiças históricas.
As mudanças do último século foram absorvidas de tal forma que muitas pessoas acreditam que a mulher já conquistou a ambicionada "igualdade". Porém, novas formas de preconceito e violências antigas continuam existindo. Com grande parte da guerra vencida, a mulher entra no século 21 preparada para mais uma batalha.
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